Liderança coletiva: percepções sobre a importância do “nós”

Liderança

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Liderança Coletiva

A pessoa que acha que lidera sozinha está se enganando. O termo ‘liderança coletiva’ talvez nem precisasse ser formado por duas palavras, já que o próprio conceito de liderança não pode ser entendido como a ação de uma só pessoa. 

Portanto, chega! Está na hora de você saber a verdade!

E a coisa é mais ou menos assim: “o rabo não balança o cachorro!”

E eu não sou o único que diz isso!

Bem-vindo à Pós-Modernidade. 

  • Hans-Gerog Gadamer diz que a história não nos pertence, nós é que pertencemos a ela. 
  • Donald Campbell diz que a criatividade é um processo evolucionário de Variação Cega e Retenção Seletiva. 
  • Michel Foucault sugere que não existe um conceito geral do que é ser “humano”, mas sim uma miríade de variações.
  • Hannah Arendt denomina os líderes de “Clowns” e sugere que o futuro resulta de uma Nós-Ação. 
  • Joseph Schumpeter diz que inovações só podem ser apreciadas em retrospecto, como um processo evolutivo de “mutação industrial.”
  • Friedrich Nietzsche clama assustadoramente por um Übermensch capaz de sobrepujar e transcender as estruturas e o contexto vigente.
  • Karl Marx grita que as estruturas posteriores é que explicam as anteriores e não o contrário. 
  • Charles Darwin explica que estamos “aqui” graças a um processo não-teleológico de evolução que inclui mutação e deriva genética.

Estamos imersos no “Nós”. 

O que todos esses pensadores estão querendo nos dizer? Bem, um monte de coisas. Se me permite, eles estão dizendo que “Nós governamos o governo.” O que é péssimo! 

É que esse “Nós” não é eu-e-você. É “eles,” o “sistema,” ou seja, ninguém. Em resumo: é a sociedade. 

Ok, esse “Nós” é mais ou menos eu e você. Mas é muito mais do que a simples soma das partes (você e eu). É tudo ao mesmo tempo, agora: eu, você, nossos pais, familiares, vizinhos, as gerações anteriores. Por isso a importância de pensar no conceito de liderança coletiva.

Não acredita? Desconfia? Tente responder às seguintes perguntas:

  • Um líder conseguiria fazer algo de importante sem poder contar com a participação de outras pessoas?
  • Um líder conseguiria fazer alguma coisa se as pessoas se recusassem a fazer?
  • Um líder conseguiria fazer algo sem ter por base uma história de vida?
  • Um líder seria “líder” sem “seguidores”?

As respostas para todas estas perguntas são: NÃO. Parece não fazer sentido, ser contra intuitivo. Eu sei… Mas a lógica por trás dessas questões não poderia ser mais clara. 

No entanto, como disse Marshall McLuhan: “Fish did not discover water.” Nós estamos imersos no “Nós.” Assim, fica difícil darmos um passo atrás e contemplar essa paisagem pós-moderna. Como explica o Gadamer:

“Long before we understand ourselves through the process of self-examination, I understand ourselves in a self-evident way in the family, society, and state in which I live.”
(tradução livre – “Muito antes de nos entendermos por meio do processo de autoexame,  nos entendemos de maneira auto evidente na família, na sociedade e no estado em que vivo)”.

De fato, parece que não existe um “Eu”… mas apenas quase que só um “Nós”…

Mas afinal, o que é uma liderança coletiva?  

Nas organizações, a liderança coletiva é uma resposta à complexidade do mundo. À necessidade das empresas de reinventar seus modelos de negócio e transformar a cultura.

Ela se baseia na ideia de que a figura do “líder detentor do conhecimento máximo” não é mais viável. Essa pessoa não suporta tantas mudanças e conhecimentos sobre quase tudo simultaneamente. 

E é por isso que a equipe entra nesse contexto com responsabilidades tão fundamentais quanto ao dessa figura de liderança. Sabemos que existem diferentes modos e jeitos de liderar, mas existem características que devem ser comuns a todos os tipos. 

Esse senso de coletividade é um deles. Depois, podemos entrar em diversas outras que serão ainda mais importantes no futuro, como colaboração, flexibilidade, adaptabilidade etc. 

Ação é “Nós”

Afinal, está mais do que na hora de mudarmos o paradigma organizacional: abandonar o do século 18 (Absolutismo) em troca de um do século 21 (Pós-Modernismo). De um que pensa que a ação emana do Imperador para um que coloca o Grupo como motor da ação. Esta mudança de perspectiva permite que as organizações possam melhor atuar na direção do futuro. Ou seja, ela aumenta o potencial de inovar das organizações. E Arendt complementa:

“The trouble with this whole business – and it is really an open question – is the following: We don’t know the future. Everybody acts into the future [which] nobody can at all know. Nobody knows what he is doing, because the future is being done. Action is a WE and not an I.” (tradução livre – “O problema com todo esse negócio – e é realmente uma questão em aberto – é o seguinte: não sabemos o futuro. Todo mundo age no futuro [que] ninguém pode saber. Ninguém sabe o que está fazendo, porque o futuro está sendo feito. A ação é um NÓS e não um Eu).”

O líder está morto

Por tudo isso, é preciso declarar a morte do líder! Ou, pelo menos, dizer que ele deveria morrer. 

Afinal, os pensadores nos dizem que não existe alguém (uma pessoa específica) que consiga prever o futuro. De modo que, não há ninguém que consiga conduzir o “Nós” em direção ao futuro. Aliás, quem parece estar no timão é justamente o dito do “Nós!”

E você pergunta: seria possível existir uma empresa como a Apple sem a liderança do Steve Jobs? De acordo com os pensadores: Sim. As teorias dizem que seria bem plausível e que “Nós” daria um jeito de incorporar um “Jobs.” 

“Ele” teria nascido em 1955 (como o Bill Gates e o Scott McNealy), e teria criado uma empresa com o nome de uma “Fruta” no Silicon Valley. Essa empresa teria sobrevivido por mais de uma década sem ele (entre 1985 e 1997). 

E, depois, teria continuado sem ele a partir de 2011 até cumprir o seu ciclo de nascimento, crescimento e morte. Por falar nisso, depois que o Steve Jobs retornou à Apple em 1997, ele criou um programa chamado Darwin. Isso não é muito suspeito?

Ainda não está convencido? Então, pense nisso: Será que um “Jobs,” que tivesse nascido em algum outro lugar do mundo e em uma outra época, teria conseguido criar uma “Apple”? 

Provavelmente a resposta é: não. Não importa o quão genial for um “líder;” sem um determinado “Nós,” sem um contexto social específico, ele não conseguirá colher a maçã.

Vida longa ao “Nós”

Nos dias de hoje é difícil proclamar que algo está “morto.” Deus, o rock, a moda, e até a história já foram declarados mortos. Sem contar com os Elvis, James Dean, Marilyn e Michael Jackson. Todos passam muito bem e faturam bastante. Mas, de qualquer forma, este texto propõe adicionar o “Líder” à lista de mortos.

O ponto é o seguinte: é o cachorro que balança o rabo. Não o contrário. É quase uma tautologia, uma redundância dizer isso, mas a organização é o grupo. É as pessoas, o “Nós.” O melhor líder é um produto do melhor “Nós.” 

Em todos os sentidos, o líder é resultado de um contexto histórico e de um grupo específico. Essa relação é profunda e intrinsecamente interconectada.

Afinal, vivemos um tempo no qual tudo está na “nuvem”. No momento, não é possível declarar a morte da “nuvem,” ainda. Muito pelo contrário. Assim, como diz o Prof Gregório Varvakis, as organizações deveriam parar de procurar por um grande líder. Ao invés, deveriam adotar o conceito de líder-nuvem (Cloud-Leader). 

Definitivamente, as organizações deveriam dar ouvidos aos pensadores citados aqui e colocar seus líderes na nuvem. É através de um grande “Nós” que emerge um grande “Líder.” Um Nós-Líder. Uma liderança coletiva. 

E esse Nós-Líder emerge de um grupo de alta-performance, tal como o descrito no texto “Mitos da inovação: 5 características atribuídas a grupos inovadores”. 

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