A maçã de Darwin e os segredos da inovação de Steve Jobs

Inovação

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Maçã De Darwin

Antes de revelar quaisquer segredos da inovação, é preciso voltar ao início. Mais especificamente, à teoria da evolução por seleção natural tão estudada por Charles Darwin (1809–1882). 

Você sabe como as girafas ficaram com o pescoço comprido?

Antes de Darwin aparecer com a sua teoria, a explicação para os pescoços compridos das girafas era dada pelo biólogo francês Jean-Baptiste Lamarck (1744–1829). 

Ele explicava que as girafas possuem um pescoço comprido devido ao que ele chamou de transmissão dos caracteres adquiridos. Ou seja, “as características do uso e desuso seriam herdadas por gerações seguintes.”

Em outras palavras, para Lamark, gerações após gerações de girafas extremamente focadas em alongar o pescoço resultou nas girafas como as conhecemos hoje em dia. 

Conforme o Lamarquismo, um foco linear e estreito em uma única coisa produz maravilhas… Então, uma girafa que permaneça tempo bastante focada em uma única coisa vai, logicamente, se tornar um… Steve Jobs! Sim, Jobs.

As vantagens das girafas desfocadas 

Lá pelas tantas, chega o Darwin e diz que a Jobs/Girafa é o resultado de um processo evolutivo de seleção natural. 

Assim, isso significa que, em determinado momento, existiam diversos tipos de girafas na África. Algumas tinham pés enormes. Outras, orelhas grandes. Outras, caudas pequenas, ou pescoços compridos, ou línguas enormes, ou qualquer combinação dessas características.

Aquelas que possuíam pescoços mais compridos conseguiram ter acesso a recursos que as outras não conseguiam. E, por causa disso, elas ficaram mais fortes e deixaram mais descendentes com as suas características. E essas, por sua vez, repetiram o processo de evolução por seleção natural até que, finalmente, elas se tornaram o Steve Jobs. Sim, o Steve que desvendou alguns dos segredos da inovação. 

Os fundos de investimento desfocados

Pergunte a qualquer Capitalista de Risco como eles fazem para ganhar dinheiro… A resposta, invariavelmente, será: evolução por seleção natural

Eles investem em “20” ideias diferentes e exigem que cada uma delas seja gerida com extremo foco. Ao final, 18 a 19 delas vão falir e 1 ou 2 vão gerar lucros o suficiente para pagar por toda a operação.

A parte interessante é que quem tem a maior chance de obter grandes lucros é justamente quem apostou em 20 alternativas (investidor) e não quem se dedicou a uma única (investido). O “desfocado” possui uma enorme vantagem sobre o “focado” quando se trata de agir em direção ao futuro. Darwin tinha razão. 

Seria esse um dos segredos da inovação? Vamos entender melhor a seguir.  

Os Jobs de Darwin 

A Apple foi fundada por Steve Jobs, Steve Wozniak, e Ronald Wayne em 1976. Jobs deixa a empresa em 1985. Após retornar à Apple em 1997, Jobs cria um programa de código aberto denominado “Darwin.” Isto não é muito suspeito?

É muito provável que Jobs tinha pleno conhecimento sobre a economia evolucionária ou evolutionary economics. Com base em Darwin e Schumpeter, a economia evolucionária descreve os ciclos econômicos como naturalísticos e eliminam noções anteriores de que as mudanças econômicas ocorrem de formateleológica: como um processo Lamarquiano.

A teoria de Darwin foi aplicada nos mais variados tipos de fenômenos. As duas mais espetaculares aplicações, na minha opinião, são:

  • a) Ciclo Econômico pelo Schumpeter; e o
  • b) Processo criativo pelo Donald T. Campbell.

Desse modo, eu gostaria de focar na relação entre o trabalho de Campbell e o Darwin. Campbell introduziu a frase “Variação Cega e Retenção Seletiva” (VCRS) para descrever o mais fundamental princípio da evolução cultural e, ao mesmo tempo, para descrever o processo de criatividade. Em inglês, VCRS é BVSR: Blind Variation and Selective Retention.

A maçã de Darwin e a busca por segredos da inovação

Pensar em Steve Jobs como um visionário mágico, que conseguia ver horizontes de inovação a frente de seu tempo, não ajuda em nada para entender o que faz a Apple ser tão lucrativa na atualidade.

Ao invés disso, se pensarmos em Jobs como um visionário cego (Blind ViSionaRy) explica um monte de coisas. Tendo por base o trabalho de Campbell, é possível descrever toda inovação como um processo de evolução cultural: Variação Cega e Retenção Seletiva. Para facilitar as coisas, pense em uma VaCa RoSa. 

Em outras palavras, isto significa que para aumentar o potencial de inovação de uma organização é necessário criar uma variação cega de ofertas e utilizar uma abordagem baseada em retenção seletiva para iniciar novos ciclos de ofertas.

IMPORTANTE: O termo cega na variação não significa variação burra. Significa não-teleológica, uma variação que vai além do que seria “óbvio.” Ou seja, criar alternativas que ampliem o leque de soluções para além do que a organização “acredita” ser a coisa certa a ser oferecida aos clientes. 

De forma simples, não é para que um cachorro tenha um filhote peixe. É apenas permitir que a ninhada, além de apresentar os filhotes com o pedigree esperado, também tenha a chance de gerar novas alternativas inesperadas e muito melhores.

A aplicação da VaCa RoSa pela Apple 

 

Vaca Rosa
Portanto, ao que parece, a Apple está operando diversas VaCas RoSas ao mesmo tempo. É possível ver em retrospectiva uma linha evolutiva ligando o primeiro iPod ao iWatch. E que há uma variação cega ocorrendo em relação ao tamanho das telas. 

Um processo de variação cega que se inicia logo após o lançamento do primeiro iPod. Um processo de retenção seletiva eliminou as telas que não eram coloridas e o Wheel. Foi possível perceber também um processo de variação cega em relação a dispositivos sem tela (built-in) ocorrendo com o iPod Schuffle e a Apple TV.

Sendo assim, é inegável que a Apple aplica a VaCa RoSa em sua estratégia e produtos. Desde o programa de código aberto “Darwin” até os processos de Variação Cega e Retenção Seletiva de seus produtos, fica claro que Jobs conhecia Darwin muito bem.

Claro que, como tudo o que Jobs fazia, ele levou a VaCa RoSa ao nível de perfeição. Mas, de qualquer forma, a lógica por trás de tudo o que ele fazia era Darwiniana. O que liberta a todos do complexo de vira-latas, por não termos essa capacidade quase-divina de “ver o futuro” como o Jobs “teria.” Afinal, ele não tinha. 

Além disso, a busca por segredos da inovação, como se houvesse uma explicação “mágica”, é algo inútil, já que nada disso é um segredo de verdade. E, por falar nisso, você e eu somos “produtos” maravilhosos dessa VaCa RoSa ou Blind ViSionaRy.

 

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