Profissionais 50+: experiência, produtividade e repertório que impulsionam inovação em tempos de Inteligência Artificial
As empresas adoram falar de diversidade, inclusão e inovação. Mas quando o assunto é idade, o discurso ainda costuma tropeçar. Persistem preconceitos silenciosos que afastam profissionais justamente quando estão no auge da maturidade, entre os 50, 60 e até 70 anos. O que deveria ser visto como ativo estratégico, muitas vezes é tratado como fragilidade.
Não é raro ouvir frases como “passou dos 50, fica difícil acompanhar o ritmo”, ou ainda “eles não dominam tecnologia, não têm a agilidade que o mercado exige”. O curioso é que os dados e a realidade mostram exatamente o contrário.
Profissionais maduros não apenas acompanham o ritmo, como são muitas vezes os que garantem que ele não se perca no meio do caminho. São eles que sustentam a produtividade, preservam a memória organizacional, oferecem equilíbrio emocional e carregam consigo algo que hoje é ouro no mundo corporativo: um repertório amplo de vida e trabalho, conforme apontam estudos da EY.
A resistência em abrir espaço para esse grupo é, mais do que preconceito, um erro estratégico que custará caro às organizações.
A maturidade como diferencial entre gerações
Um dos grandes equívocos das empresas é acreditar que a experiência envelhece. A maturidade não é peso, é lastro. E vem junto os aprendizados que não se compram em cursos, não se leem em livros e não se acessam em vídeos curtos no celular.
São aprendizados vividos em situações reais, em crises, em negociações difíceis, em decisões que exigiram coragem e, sobretudo, em relações humanas cultivadas ao longo de décadas.
Esse acúmulo se traduz em tolerância, porque já se experimentou a frustração e aprendeu-se a relativizá-la. Em equilíbrio emocional, porque a vida já mostrou que um tropeço não é o fim, mas parte do processo. Em postura profissional, porque não há mais a necessidade de provar algo a cada instante, mas sim de sustentar o que se construiu. Em capacidade de lidar com conflitos, porque eles já foram enfrentados em diferentes intensidades e formatos. E em empatia, que cresce quando se percebe que ninguém chega sozinho a lugar algum.
Se olharmos com atenção, todas essas qualidades são justamente o que falta em muitas organizações que vivem presas à pressa, ao imediatismo e à ansiedade por resultados de curto prazo.
O mito da improdutividade
A crença de que, após os 50, um profissional se torna menos produtivo não resiste a evidências. Pesquisas de mercado confirmam que esses profissionais estão entre os mais dedicados e comprometidos com metas, tanto nos detalhes do dia a dia quanto na execução de estratégias mais amplas. São eles que demonstram maior consistência na entrega e, sobretudo, maior preparo para lidar com os desafios inevitáveis que surgem em qualquer função.
A produtividade, afinal, não se mede apenas por velocidade. Ela é também sobre qualidade, consistência e capacidade de tomar decisões acertadas. E nisso, a maturidade sai na frente.
O choque cultural que pode ser potência
O problema não é a presença dos 50+. O problema é quando as empresas ainda os vêem em oposição aos mais jovens. Essa visão binária, de que juventude é sinônimo de inovação e maturidade é sinônimo de acomodação, impede que se perceba a verdadeira potência das equipes multigeracionais.
Quando gerações diferentes se encontram no mesmo projeto, o que se cria é um choque cultural que pode ser altamente criativo. De um lado, a ousadia e energia de quem chega cheio de novas ideias. Do outro, a visão sistêmica e o senso de contexto de quem já viu muitas ideias brilhantes naufragarem por falta de execução.
O equilíbrio entre a pressa e a prudência, entre o novo e o legado, entre o desejo de mudar tudo e a sabedoria de saber o que não deve ser perdido, é o que gera inovação sustentável.
Inteligência Artificial e o valor do repertório humano
Vivemos um tempo em que a Inteligência Artificial se tornou onipresente. Ferramentas como ChatGPT, Copilot, Gemini e tantas outras estão transformando a forma como trabalhamos. Nunca se falou tanto em prompts, em “perguntar certo para receber respostas certas”, em treinar máquinas para pensar conosco.
E aqui tem um ponto interessante: quanto mais tecnologias se multiplicam, mais evidente fica a necessidade de repertório humano. Porque fazer uma pergunta adequada exige capacidade de análise, visão crítica e experiência acumulada. Não é qualquer pessoa que consegue elaborar uma questão que provoque a máquina a gerar algo realmente útil. Do mesmo modo, avaliar as respostas da IA requer discernimento para separar o que é insight do que é apenas ruído.
Segundo relata a Fast Company, é neste aspecto que os profissionais 50+ podem contribuir. Eles carregam consigo a vivência de diferentes contextos, a habilidade de cruzar informações aparentemente desconexas e a maturidade para interpretar nuances.
Em um mundo que valoriza cada vez mais a qualidade da pergunta, o repertório é a chave. E repertório não se improvisa. Ele se constrói ao longo de décadas, entre sucessos, erros, aprendizados e retomadas.
Portanto, se as empresas acreditam que podem substituir a experiência humana pela inteligência artificial, estão enganadas. A IA pode processar dados em escala inimaginável, mas ainda depende da profundidade humana para que esses dados se transformem em sabedoria aplicável.
O custo invisível do preconceito
Ignorar os profissionais maduros tem um preço alto. As empresas que insistem em excluí-los perdem muito mais do que imaginam. Perdem a memória organizacional, desperdiçam recursos com treinamentos repetitivos, aumentam o turnover por não valorizar quem poderia ser mentor natural das novas gerações e corroem sua própria reputação ao reproduzir práticas discriminatórias.
Em um cenário de escassez de talentos, onde a palavra da vez é retenção, essa miopia custa caro. É como abrir mão, de forma consciente, de uma vantagem competitiva que já está dentro de casa.
Por que ainda resistimos?
Se os dados mostram os benefícios, por que a resistência persiste? Parte da resposta está no preconceito inconsciente, que associa juventude a capacidade e maturidade a obsolescência. Outra parte está em culturas corporativas imediatistas, que confundem velocidade com competência e preferem o novo apenas pelo novo. Some-se a isso a falta de políticas públicas robustas de incentivo e o medo de lideranças em lidar com pessoas diferentes de si mesmas.
Mas nenhuma dessas razões se sustenta diante do desafio que está por vir: o Brasil está envelhecendo rápido. Até 2040, metade da força de trabalho terá mais de 50 anos. O futuro não é uma escolha, é algo concreto. É um fato.
O que as empresas precisam fazer agora
Não basta aceitar passivamente que esse futuro virá. É preciso agir. Isso significa revisar processos seletivos que ainda discriminam indiretamente com frases como “perfil jovem e dinâmico”. Significa criar programas de desenvolvimento que não partem da premissa de que aprendizado é privilégio dos mais novos. Significa treinar lideranças para gerirem times multigeracionais, estimulando a troca de experiências em duas vias: os maduros ensinando e também aprendendo com os jovens.
Mais do que isso: significa entender que valorizar a maturidade não é “abrir concessões”, mas fortalecer resultados.
Quem não enxergar, ficará para trás
Profissionais acima de 50 anos não são “carga” para as empresas. São ativos estratégicos. Gente que traz equilíbrio, experiência, dedicação e uma visão de mundo que não pode ser ignorada.
A resistência em contratá-los não é apenas preconceito. É um erro estratégico que compromete resultados de curto, médio e longo prazo.
Portanto, fica a pergunta provocativa: a sua empresa está preparada para o futuro multigeracional ou ainda vive presa a estereótipos ultrapassados?