Planejamento estratégico na era da complexidade: como integrar os 3 horizontes da inovação para construir o futuro

Inovação

Compartilhe nas redes

planejamento estratégico complexidade

Planejar deixou de ser prever o futuro: agora é saber navegar a complexidade com consciência, inovação e liderança.

É perceptível observar um fenômeno recorrente: empresas ainda estão planejando com métodos antigos em um mundo que já não existe mais. Não faltam ferramentas, não faltam processos, nem falta esforço. O que falta é uma mudança profunda de mentalidade, uma revisão do que significa planejar em ambientes complexos, incertos, interdependentes e acelerados. E, em especial, do que significa liderar nesse novo terreno onde as perguntas são mais relevantes do que as respostas prontas.

Quando revisitamos a discussão sobre liderança estratégica em tempos de incerteza e cruzamos com a visão dos 3 Horizontes da Inovação, percebemos o quanto esses dois universos se reforçam mutuamente. Liderar em incerteza exige navegar entre diferentes tempos. Inovar com consistência exige reconhecer que futuro e presente convivem simultaneamente. Planejamento, portanto, deixa de ser uma peça estática e se torna um organismo vivo, um processo que respira, acompanha e recria a realidade em fluxo.

Este artigo propõe uma nova diretriz para o planejamento estratégico contemporâneo, especialmente útil para organizações que já entenderam que previsibilidade é uma ilusão confortável e que, para permanecer relevantes, precisarão desenvolver uma nova abordagem para definir as suas estratégias de ação.

A falência silenciosa dos modelos tradicionais

Historicamente, o planejamento estratégico partia da premissa de que o ambiente era relativamente estável. O futuro poderia ser projetado com base em séries históricas, tendências claras, movimentos econômicos de médio prazo e certa lógica de causa e efeito. Esse modelo operava como uma linha reta: analisar, planejar, executar, medir e corrigir.

Mas a aceleração das tecnologias, as novas dinâmicas sociais, a fluidez das relações de trabalho, as tensões globais e a crescente interdependência dos sistemas econômicos mudaram completamente essa lógica. Hoje, fatores que antes eram periféricos tornaram-se centrais; variáveis que antes eram lentas tornaram-se imprevisíveis; e eventos que pareciam distantes passaram a ter impacto imediato.

Percebo nas organizações um esforço imenso para manter modelos de planejamento que já não dialogam com o mundo real. Não é raro encontrar líderes que, ao olhar para seus planos anuais ou plurianuais, percebem que grande parte do esforço investido ali se dissolve diante de uma mudança inesperada, seja uma decisão governamental, um novo comportamento de mercado, uma tecnologia que rompe paradigmas ou simplesmente uma mudança de percepção da sociedade.

Nesse contexto, os planos deixam de ser guias e passam a ser muros. A estratégia se torna rígida quando deveria ser adaptativa. E a liderança se sente pressionada porque carrega a falsa expectativa de “prever o imprevisível”.

A maior ruptura necessária, portanto, não é metodológica; é filosófica. É entender que planejar não é antecipar o futuro, mas navegar o presente com consciência ampliada e capacidade adaptativa.

A liderança que o século XXI exige

A liderança estratégica em tempos de incerteza não é sobre responder rápido, mas sobre responder com consciência. É uma liderança capaz de ler o contexto em múltiplas camadas e perceber que o mundo não se apresenta mais em forma de certezas, mas de tensões.

Essa liderança não tem como missão eliminar a incerteza, até porque isso é impossível mas criar condições para que sua equipe possa operar em equilíbrio entre ação e reflexão, entre execução e observação, entre pressão por resultados e espaço para pensar.

Ao acompanhar executivos e gestores nos últimos anos, percebo que aqueles que se destacam não são os mais técnicos, os mais rápidos ou os mais assertivos. São os que desenvolveram a capacidade de interpretar o que está invisível, conectar pontos que parecem desconexos, sustentar conversas difíceis, legitimar dúvidas e talvez o ponto mais complexo, reconhecer quando uma rota precisa ser revista, mesmo que o plano estivesse aparentemente perfeito.

Liderar na incerteza é ter a humildade de afirmar: “não sabemos exatamente como será”, mas também a coragem de afirmar: “sabemos como vamos navegar.”

Essa é a essência da liderança estratégica contemporânea.

A coexistência dos tempos: uma nova lente para pensar estratégia

A visão dos 3 Horizontes da Inovação, originalmente propostos por Baghai, Coley e White, é uma das abordagens para compreender que o presente, a transição e o futuro não são etapas lineares, mas tempos coexistentes.

O Horizonte 1 representa o presente dominante: tudo aquilo que garante o funcionamento da organização hoje. Sem ele, não há operação, não há caixa, não há execução.
O Horizonte 3 representa o futuro emergente: aquilo que pode transformar profundamente o setor e abrir novos caminhos de valor.

E o Horizonte 2 é o mais desafiador: é o intervalo entre o que existe e o que está nascendo. É a zona de transição, onde velhas estruturas precisam conviver com novas possibilidades.

O grande equívoco de muitas empresas é acreditar que o futuro “chegará” apenas quando o presente se esgotar. No entanto, o futuro já está acontecendo em paralelo. Ele convive com o presente, se manifesta em sinais fracos e tende a se impor silenciosamente até se tornar inevitável.

Planejar, portanto, não pode mais se limitar ao Horizonte 1. E inovar não pode ser um esforço isolado alocado ao Horizonte 3. A estratégia precisa se tornar uma prática intertemporal que reconheça a coexistência dessas três forças.

Quando isso acontece, a organização deixa de operar apenas “onde está” e passa a operar também “onde pode estar” e “quem pode se tornar”.

Por que tantas organizações ficam aprisionadas no Horizonte 1

A armadilha mais comum é a sedução da eficiência. Quando uma empresa funciona bem, quando o faturamento cresce, quando os processos estão sob controle, a tendência natural é reforçar aquilo que já funciona. E isso cria uma falsa sensação de segurança.

No entanto, quanto mais eficiente uma organização se torna no presente, menos ela se permite questionar seu modelo. A eficiência, se mal compreendida, pode ser inimiga da inovação. Ela cria métricas que reforçam apenas o que já existe. Ela produz rotinas que consomem toda a energia estratégica. Ela recompensa quem mantém o sistema funcionando, mas não quem propõe novas perguntas.

A organização fica tão absorvida pela operação que perde a capacidade de observar sinais externos. E quando finalmente percebe que o ambiente se transformou, já está atrasada.

Esse aprisionamento no H1 tem consequências sérias: sufoca o H2 e inviabiliza o H3. É como dirigir olhando apenas para o retrovisor: você pode estar no controle, mas está sempre atrasado em relação ao que está por vir.

O desafio invisível do Horizonte 2: onde a estratégia se transforma

Se existe um espaço onde o planejamento estratégico realmente acontece, é no Horizonte 2. Ali convivem tensões, contradições, tentativas, testes e ajustes. O H2 exige coragem e resiliência política, porque é nele que surgem as conversas sobre o que deve ser mantido, o que deve ser transformado e o que precisa ser abandonado.

O H2 é desconfortável e, por isso, é frequentemente negligenciado. Ele demanda esforço porque ele não oferece respostas prontas. Ele exige maturidade porque envolve desapego. Ele testa a liderança porque coloca o presente e o futuro à mesa ao mesmo tempo e nem sempre esses dois lados concordam.

Mas é justamente no H2 que as organizações preparam seu espaço de sobrevivência e relevância. Ignorar o H2 é projetar uma empresa que, cedo ou tarde, se tornará refém do próprio sucesso passado.

O Horizonte 3: o futuro que precisa ser cultivado no presente

O H3 não é sobre adivinhação. É sobre sensibilidade. É entender que o futuro já envia sinais. É compreender que inovação não se trata de imaginar algo sem base, mas de ampliar a percepção sobre o que está emergindo na sociedade, na tecnologia, na economia e nas novas narrativas culturais.

O H3 exige uma postura de abertura: observar, experimentar, dialogar, se conectar com ecossistemas e imaginar possibilidades que ainda não possuem forma definida. Organizações que levam o H3 a sério investem em relacionamentos externos, exploram fronteiras tecnológicas, estimulam a criatividade e testam ideias que podem parecer pequenas agora, mas carregarão alto potencial depois.

Uma liderança madura sabe que, mesmo que o H3 ainda não seja lucrativo hoje, ele é indispensável para a continuidade amanhã. É no H3 que reside a capacidade de reinvenção.

A integração dos três horizontes: o coração da estratégia contemporânea

A grande mudança no planejamento estratégico não é abandonar o que existe, mas integrar camadas temporais que antes eram tratadas de forma separada. Uma organização madura não pergunta apenas “como estamos?”, mas também “para onde estamos indo?” e “que sinais estão indicando o que pode nascer?”

Essa integração não pode ser episódica. Ela precisa se tornar prática recorrente de liderança.  O presente sustenta o futuro. O futuro desafia o presente. E o H2 mantém essa conversa viva.

Quando isso acontece, a estratégia deixa de ser estática e passa a ser fermentada continuamente. Ela respira.

Uma diretriz renovada para planejar em ambientes complexos

Planejar, hoje, significa operar com consciência ampliada. Não é mais definir um mapa fechado, mas criar bússolas. Não é desenhar o futuro na prancheta, mas construir a capacidade de caminhar enquanto o terreno muda. É entender que o plano é menos importante do que a forma como a organização se relaciona com ele.

O planejamento renovado requer postura reflexiva, discernimento e presença. Requer que líderes sejam arquitetos de conversas que conectam intenções e realidades. Exige maturidade para rever rotas, mesmo quando elas pareciam perfeitas. E demanda uma cultura que aceita teste, aprendizagem e transições.

A estratégia passa a ser um exercício contínuo de interpretação. Ela deixa de ser anual e se torna permanente. O papel da liderança é criar rituais, espaços e ritmos que permitam que esse processo se mantenha vivo.

Nesse modelo, a inovação não é um capítulo separado, ela é fio condutor. E os 3 Horizontes funcionam como lentes que ampliam a visão e a capacidade de agir.

O papel da liderança como navegadora da complexidade

Liderar nesse cenário não é conduzir com certezas, mas com presença. A liderança precisa tomar decisões mesmo diante da falta de garantias. Precisa comunicar com clareza, mesmo quando não há mapas lineares. Precisa sustentar emocionalmente sua equipe, mesmo quando o ambiente externo é desafiador.

Uma liderança que navega bem, cria ambiências de confiança. Ela compreende que, em tempos de incerteza, o que paralisa não é o risco, mas o silêncio. Por isso, ela se envolve em conversas frequentes, acolhe dúvidas e dá espaço para que o time participe da construção do caminho.

A liderança contemporânea compreende também que o tempo é um recurso estratégico. Priorizar não é apenas organizar tarefas, mas direcionar energia para aquilo que realmente gera impacto. 

A necessidade de um sistema de navegação e não de controle

O grande salto do planejamento estratégico contemporâneo não está em criar mais controle, mas em criar sistemas de navegação. Controle aprisiona. Navegação orienta. Controle constrói barreiras. Navegação constrói caminhos. Controle tenta prever. Navegação observa e ajusta.

Organizações que navegam bem lidam com eventos inesperados sem se perder. Elas têm clareza de rumo, mas flexibilidade de trajetória. Elas sabem o que é inegociável: propósito, princípios e posicionamento, mas permitem que o resto seja revisado à medida que o contexto muda.

Essa é a essência de um planejamento estratégico vivo.

Como esse modelo se traduz em consultoria aplicada

A aplicação desse modelo exige profundidade, escuta, análise sistêmica e presença. Nos processos que conduzo, observo que o ponto de partida não é o plano, mas a cultura. Entender como a organização decide, como conversa, como sente, como aprende e como reage ao novo é fundamental.

A partir dessa escuta, podemos construir um diagnóstico que revela não apenas o que a empresa faz, mas como ela se relaciona com seus próprios horizontes. Em seguida, trabalhamos na construção de um sistema estratégico que integre presente, transição e futuro de forma orgânica.

A imersão da liderança é uma etapa decisiva. Ela amplia a consciência, fortalece a capacidade de interpretação e cria alinhamento para que as decisões fluam. E a execução orientada pela navegação contínua permite que a estratégia se adapte sem perder identidade.

Esse processo não é rápido, porque a maturidade não se acelera artificialmente, mas é profundamente transformador. Ele cria organizações mais conscientes, mais preparadas, mais inovadoras e mais humanas.

O futuro não exige perfeição, exige presença

Vivemos um tempo em que o planejamento estratégico precisa voltar a ser o que ele sempre deveria ter sido: um exercício de inteligência coletiva, de leitura sistêmica e de coragem. O mundo não apresenta o caminho certo de antemão, mas podemos desenvolver a capacidade de caminhar com discernimento em terrenos desconhecidos.

Os 3 Horizontes nos lembram que todo presente convive com futuros possíveis. E a liderança consciente nos lembra que todo futuro depende da qualidade das decisões que tomamos hoje. Planejar não é fixar um destino. É aprender a navegar. E navegar exige presença.

Se a sua empresa deseja revisar o planejamento estratégico, integrar inovação e desenvolver liderança com consciência e presença, posso apoiar com um processo consultivo profundo, customizado e alinhado à complexidade atual.

Vamos trabalhar juntos para construir um modelo vivo de estratégia, que respeite o presente, prepare a transição e abra caminhos reais de futuro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Palestras
Além da IA: o valor que ela não codifica
Em tempos de IA, empatia, ética e intuição seguem como códigos que só o humano decifrar.
CONTRATAR
Liderança ágil e adaptativa
Conceito que surge em resposta à complexidade das mudanças no ambiente de negócios atual.
CONTRATAR
Pessoas, protagonismo e inovação
Pessoas no centro: como o protagonismo impulsiona a inovação em tempos de mudança contínua.
CONTRATAR
Gestão do Tempo e produtividade
Mais foco, menos urgência: como a gestão do tempo pode aumentar sua produtividade e bem-estar diário.
CONTRATAR
Cultura organizacional, pessoas e processos
Cultura forte une pessoas e processos para transformar estratégias em resultados consistentes e duradouros.
CONTRATAR
Accountability no ambiente profissional
Assumir responsabilidades fortalece equipes, entrega resultados e inspira confiança.
CONTRATAR
Confiança e engajamento
Em um mundo em mudança, confiança com transparência e coerência fortalece os times.
CONTRATAR
Inovação é feita de gente
Ideias nascem quando pessoas se conectam, colaboram e colocam propósito em ação.
CONTRATAR
Virando a própria mesa a qualquer momento
Um convite à coragem de romper padrões, redesenhar escolhas e assumir o protagonismo da própria história.
CONTRATAR

Assine nossa newsletter e receba nosso conteúdo

PARCERIAS

Conheça a EMY – plataforma que une dados, pessoas e inovação com propósito

Conheça meus livros

Artigos relacionados

Inovação

Planejamento estratégico na era da complexidade: como integrar os 3 horizontes da inovação para construir o futuro

Gestão do Tempo

A verdadeira moeda da vida: tempo, mente e liderança com propósito

Yuval Harari esteve no Brasil e trouxe uma das frases mais potentes do HSM+ 2025: “Se você não tem tempo, você é pobre. Porque a verdadeira moeda da vida é o tempo.”
Inovação

Cisne Vermelho e o fim da normalidade: por que planejar como antes é o maior risco do futuro

O conceito de “Cisne Vermelho”, de Silvio Meira, revela a vulnerabilidade de mantermos o mesmo estilo de planejamento num mundo que já não cabe nas certezas do passado.

Fique por dentro!

Assine nossa newsletter e receba nosso conteúdo.

Ao preencher o campo acima você concorda com nossa Política de Privacidade.

Quer levar ao seu público conversas com profundidade, provocação e visão de futuro?

Sou Maria Augusta Orofino, especialista em liderança e cultura organizacional. Nos podcasts, compartilho tendências, reflexões e insights com linguagem acessível e estratégica. Vamos juntos enriquecer seu conteúdo e engajar sua audiência?
Me chama para o seu podcast!