A economia prateada cresce no Brasil e no mundo: profissionais 50+ assumem protagonismo como consumidores, empreendedores e inovadores, movimentando trilhões e redefinindo o futuro do trabalho.
Muito além de um nicho de consumo
Nas últimas décadas, uma revolução silenciosa vem transformando o mercado global. Trata-se da economia prateada, termo que engloba o poder de consumo, produção e impacto social da população acima dos 50 anos. Se antes esse grupo era visto apenas sob a ótica da aposentadoria, hoje ele representa não apenas a maior fatia de consumidores em crescimento, mas também uma força produtiva, empreendedora e inovadora capaz de sustentar a economia e redesenhar o futuro do trabalho.
O problema é que, na maioria das vezes, a narrativa ainda é contada apenas de um lado: empresas mirando os maduros como consumidores de medicamentos, planos de saúde, turismo ou produtos adaptados.
Mas o olhar que precisamos ampliar é outro: e se, em vez de apenas comprar, essas pessoas também venderem, criarem e ofertarem soluções, serviços e competências?
É sobre isso que este artigo se debruça: a potência da geração prateada como protagonista ativa da economia global, capaz de inovar, empreender e gerar riqueza.
O cenário global da longevidade
Vivemos um fenômeno demográfico sem precedentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos dobrará, chegando a 2 bilhões no mundo. No Brasil, esse grupo já ultrapassa 32 milhões de pessoas, mais de 15% da população.
Essa mudança impacta todos os setores: previdência, saúde, consumo, mas também trabalho e inovação. A narrativa dominante ainda enxerga a longevidade como “problema social” ou “custo para o Estado”. Porém, na prática, estamos diante de um novo motor econômico.
De acordo com o Sebrae, a economia prateada já movimenta cerca de R$ 1,6 trilhão por ano no Brasil e responde por 20% do consumo mundial. Nos EUA e Europa, o poder de compra deste grupo supera o de gerações mais jovens. Mas o dado que deveria nos fazer repensar é outro: segundo o Global Entrepreneurship Monitor, a maior taxa de sucesso em novos negócios está entre empreendedores acima de 50 anos.
Do consumo à produção: a virada necessária
É comum ver relatórios e campanhas sobre como vender mais para o público maduro. Fala-se em embalagens mais acessíveis, viagens adaptadas, tecnologia intuitiva. Mas pouco se fala do contrário: como incentivar, apoiar e dar visibilidade para que esse público também venda, atue e produza?
Quebrando mitos
Mito 1: pessoas acima de 50 têm dificuldade de acompanhar o ritmo tecnológico.
Realidade: são justamente elas que possuem maior capacidade de análise crítica diante da avalanche de informações digitais, por terem repertório e experiência.
Mito 2: empreender depois dos 50 é arriscado.
Realidade: Pesquisas mostram que empreendedores acima de 50 têm mais probabilidade de sucesso do que jovens, porque combinam rede de contatos, inteligência emocional e visão de mercado.
Mito 3: após os 60, é hora de desacelerar.
Realidade: muitas vezes é exatamente nessa fase que a maturidade, a estabilidade emocional e a liberdade de escolhas permitem criar negócios mais autorais e significativos.
A economia prateada no Brasil: potência subestimada
O Brasil, apesar dos desafios, é um terreno fértil para a valorização do público 50+.
- Perfil socioeconômico: 34% dos lares brasileiros têm como principal fonte de renda alguém com mais de 50 anos.
- Mercado de trabalho: mais de 10 milhões de pessoas acima dos 50 seguem ativas, mesmo enfrentando preconceito etário.
- Empreendedorismo: cerca de 25% dos microempreendedores individuais (MEIs) têm mais de 50 anos, segundo dados do Sebrae.
Esses números revelam uma contradição: ao mesmo tempo em que o etarismo tenta empurrar profissionais maduros para a margem, é justamente esse grupo que sustenta famílias, abre empresas e garante estabilidade financeira em períodos de crise.
Competências que a juventude não entrega
Por que apostar no talento e nos negócios criados por pessoas acima de 50 anos? Porque existem competências que dificilmente se adquirem sem tempo de estrada:
- Resiliência e antifragilidade – quem atravessou crises econômicas, mudanças tecnológicas e rupturas políticas carrega um arsenal de aprendizados que dá musculatura para enfrentar a volatilidade atual.
- Networking consolidado – décadas de carreira permitem acesso a redes qualificadas que aceleram negócios.
- Capacidade de julgamento – no mar de dados e IA generativa, saber fazer a pergunta certa é uma habilidade rara, geralmente presente em quem acumula repertório.
- Gestão de conflitos – equilíbrio emocional para lidar com tensões organizacionais e sociais.
- Propósito alinhado – mais do que ganhar, muitos querem deixar legado – e isso atrai clientes, parceiros e investidores.
Barreiras a enfrentar: o etarismo corporativo
Apesar de todo esse potencial, o mercado ainda insiste em infantilizar ou invisibilizar os 50+. A publicidade prefere imagens jovens, a inovação é frequentemente associada apenas à juventude, e muitas empresas praticam o “descarte silencioso” de profissionais maduros.
Esse etarismo custa caro. Segundo estudos, se houvesse maior inclusão de trabalhadores acima dos 55, o PIB brasileiro poderia crescer até 7% ao ano. Ou seja, não é caridade, é estratégia econômica.
O futuro do trabalho é multigeracional
Organizações que se abrem para equipes com diversidade etária colhem resultados tangíveis: maior produtividade, criatividade ampliada e equilíbrio emocional. Mas a mudança vai além: as empresas precisam criar programas de intraempreendedorismo e inovação voltados para os maduros, não apenas para trainees.
A geração prateada pode ser mentora, consultora, parceira de inovação e protagonista de novos negócios. A lógica deve mudar: não é sobre “incluir por inclusão”, mas sobre usar o que esse talento tem de melhor para gerar valor real.
Da economia prateada à economia da sabedoria
Ao falarmos de longevidade, não basta pensar em consumo. Precisamos evoluir para a economia da sabedoria: um modelo em que a experiência acumulada é tratada como ativo estratégico, e não como peso.
Essa economia é feita de profissionais que:
- Criam empresas autorais.
- Oferecem consultorias de alto impacto.
- Compartilham repertório com startups.
- Atuam como ponte entre gerações.
Trata-se de enxergar a longevidade não como fardo, mas como diferencial competitivo.
O papel das políticas públicas e das empresas
O papel das políticas públicas e das empresas é fundamental para que o potencial da economia prateada realmente floresça e seja reconhecido como força estratégica no desenvolvimento social e econômico.
No campo das políticas públicas, torna-se essencial criar instrumentos que incentivem o empreendedorismo maduro, com linhas de crédito específicas para pessoas acima dos 50 anos, que muitas vezes encontram barreiras desnecessárias no acesso a financiamento.
Além disso, é preciso desenvolver programas de inovação que contemplem esse público, abrindo espaço para que profissionais experientes possam aplicar seu repertório em soluções tecnológicas, sociais e de impacto coletivo.
No universo das empresas, a mudança de mentalidade é igualmente necessária. É hora de estruturar programas consistentes de diversidade etária, indo além do discurso inclusivo e transformando a pluralidade de idades em diferencial competitivo.
A valorização de consultores sêniores, que carregam consigo experiência, inteligência emocional e redes de relacionamento sólidas, pode fortalecer a estratégia organizacional em momentos de mudança.
Mais do que isso, as organizações devem abrir espaço para projetos híbridos que combinem carreira e empreendedorismo, estimulando seus profissionais maduros a desenvolverem iniciativas próprias em paralelo às atividades corporativas, criando um ecossistema de inovação multigeracional.
É hora de virar a chave
A economia prateada não é uma promessa distante: ela já pulsa como realidade concreta, transformando consumo, negócios e formas de trabalho em escala global. O que ainda falta é um novo olhar.
Precisamos deixar de enxergar pessoas acima dos 50 apenas como consumidores para reconhecê-las como protagonistas econômicos, empreendedores, inovadores e produtores de riqueza.
Se a juventude traz energia, a maturidade entrega sabedoria e repertório. A combinação dessas forças é o que garantirá vantagem competitiva às sociedades e organizações capazes de valorizar o potencial multigeracional.
Nesse cenário, quem tem mais de 50 anos não é coadjuvante: é peça central na criação de soluções, negócios e caminhos sustentáveis para o futuro.
É justamente com esse propósito que desenvolvemos a Mentoria Silver 50+, um programa voltado a apoiar profissionais maduros na construção de projetos de vida e carreira alinhados ao seu legado, ao mercado e às novas oportunidades da longevidade produtiva.
Porque não basta falar de protagonismo: é preciso criar as condições para exercê-lo.